A arte de Dacruz.

ARTÍSTA PLÁSTICO CARLOS CÉSAR CRUZ (Dacruz) MORA EM ITAPIRAPUÃ-GO

Por Nilson Almir

Erradicado recentemente em Itapirapuã-GO, o artísta plástico Dacruz, que tem fortes raízes com a nossa terra, tem montado o seu atiliê à rua JK, no centro da cidade, numa casa humilde, em frente à casa de seus pais, sr. Fernando Cruz e dona Oréstia Cruz. A casa de Dacruz fica em frente também da Escola Estadual Desor Mario Caiado, de onde vem, durante todo o dia, grande movimentação de crianças estudantes e dos profissionais docentes da escola. É uma rua bastante movimentada por pedestres, mas isso não tira o sossego que Dacruz veio buscar para seu labor artístico diário. Vizinho de Dacruz, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itapirapuã, instrumento e símbolo da luta por direitos de uma classe oprimida.
Dacruz está a poucos metros das margens do Rio Itapirapuã, refúgio para o seu sossego e inspiração junto à natureza viva. É lá que, a poucas passadas, solitário, pescando com anzol ou meditando, faz o seu encontro com, talvés, Xangrilá, o paraíso dimensional Ovalistico retratado em suas obras conhecidas no mundo inteiro. Dacruz enche-se de satisfação ao falar do seu contato com a natureza dislumbrante e viva no rio Itapirapuã, conta da pescaria quando esqueceu de levar as minhocas, para mostrar seu real interesse no convívio com a natureza e todo o encanto que lá encontra.
Esbanjando vida e intusiasmo, Dacruz mostra-se um homem cheio de idéias, de planos e projetos, para Itapirapuã, Goiânia e para a sua arte. "...são muitas idéias, são sonhos para um mundo melhor." Diz Dacruz. Entre estes projetos, o mais magnífico, a ser apresentado para as autoridades do meio, na capital goiana, que prevê a construção de um ovo gigantesco, com 33 metros de altura, flutando no lago do Bosque dos Buritis, simbolizando a criação da vida. Dacruz mostra-se apreensivo com a urgência deste projeto no sentido de poder aproveitar o trabalho arquitetônico de Oscar Niemeyer, ainda vivo, na armação em concreto que a obra exigirá.
A conversa com Dacruz é agradável, ocorre numa mistura de misticismo, lucidez e racionalidade, levando a gente a, pode-se dizer, uma proximidade real de um outro mundo, outra dimenção, pelas suas palavras, e contato com suas obras, que mesmo inacabadas, a exemplo da pintura "bailarina", em uma tela redonda, que faz na mistura da cores e desenhos, a impressão inacreditável de vida e movimento no seu colorido.
VISLUMBRANDO O XANGRILÁ - O Dom da Arte Divina
Por Carlos César Cruz (Dacruz)
"O artista de hoje tem que ter consciência do que faz, precisa estar sincronizado com o seu tempo, pois não podemos esquecer que somos o passado de todo o homem na Terra. Temos de saber valorizar este dom, que é Divino e que também é um portal para alcançarmos a sublimação do Ser, baseado no conhecimento da Verdade Suprema. Precisamos saber que estamos refletindo em nossas obras o que somos, já que todo o trabalho é autobiográfico. Assim, se somos claros, pintamos com clareza, se somo límpidos, transparentes, nossas obras assim serão. Se quisermos a perfeição, então perfeita será a nossa obra. Se somos quadrados, refletimos isto em nossas obras. Como sempre procurei a perfeição e o belo, quero acreditar que nem a mais absoluta miséria irá influenciar o meu pensamento, pois foi chegando ao nada que pude vislumbrar o todo, foi aí que imaginei Xangrilás e Paraísos cheios de vales, onde o horizonte começa para o infinito do todo.
A fórmula para encontrar uma nova dimensão é arredondar Tudo, Zerar; é libertar-se do quadrado que nos prende a esta dimensão. É preciso arredondar os cantos dos quadrado de dentro que apontam o infinito do nada e aparar as pontas do quadrado de fora que abre o caminho para o infinito do todo, criando assim um futuro Ovalista. Pegamos o ponto e ampliamos em formas circundantes até encontrarmos a esfera. Caminhar sobre a esfera nos possibilita infinitos horizontes, na proporção de um para três, para 33, para 333...
Então, precisamos libertar-nos da visão atual do infinito, onde o ponto de fuga converge para o centro dele, ou seja, para o infinito do nada, e visualizar um novo infinito, o infinito do todo, onde temos o movimento cadenciado sempre para frente e em curva constante e progressiva, como é o movimento da vida no universo.
O caminho Ovalista quer indicar ao homem do futuro possibilidades de explorar o seu espírito no ideal de clareza, de limpidez e de transparência, inspirado no amor ao próximo, à natureza e a Deus sobre todas as coisas.
Agora vou pintar ovoides, quero assumir todos os lados do ovóide, criando um horizonte infinito, ou seja, de onde estiver verá um horizonte sem interrupções, de movimento continuado onde espero abolir o quadrado definitivamente de minha arte.
Tento buscar a perfeição absoluta, por isso preciso ser claro, límpido e transparente onde mostrarei meu caminho pelas formas almográficas da natureza, que sempre procurou mostrar o seu movimento para o belo, para uma vida plena, radiante e feliz, fortificada no amor e na bondade. Não podemos ter influências do quadrado em nossas vidas, precisamos nos desvencilhar do desejo material, imposto na era industrial, que contribuiu definitivamente para que se fechasse o ciclo material, explorado até a exaustão, onde verificamos que o fim é a morte.
Neste milênio, o homem deve buscar o caminho de uma nova dimensão, baseado no movimento de um futuro ovalista e infinito. Para isto, devemos lançar fora tudo o que atrapalha e nos mantém prisioneiros, para adotarmos uma postura baseada no desenvolvimento sincero do dom que nos foi dado por Deus, buscando o aperfeiçoamento do nosso espírito, o amor e a bondade. Através do Xangrilá, tem-se o perfil do homem Ovalista, que deseja para todos vida eterna e plena."
CARLOS CÉSAR CRUZ (Dacruz) Autodidata.

Texto publicado na revista VIA S&T, ano 3 - nº 04

A PINTURA DE DACRUZ

Auto-retrato - 2002


Dacruz e sua pequena Sofia

Retrato de Dacruz 1981- Por Siron Franco




Retrato de Dacruz - 1998















Os Amantes - 1975 Óleo sobre tela 807x956

O professor - 2006 Óleo sobre tela 80x100




Último suspiro do quadrado - 2006 Óleo sobre tela 70x85
Paisagem - 2004 Óleo sobre tela 50x60




Agonia do quadrado - 2003 Óleo sobre tela 1,4x1,4







Pedra goiana




Último suspiro do quadrado -2005 Oleo sobre tela 80x120
Carlos DACRUZ

Carlos DACRUZ é conterrâneo de importantes artistas da efervescente geração dos anos setenta e oitenta. Décadas frutiferas para as artes goianas. Dividiu criatividade com nomes como: Roos, Amaury Meneses, Gomes de Souza, Omar Souto, Iza Costa, Cléa Costa, M. Cavalcanti e tantos outros que aprendiam com os mestres: D.J. Oliveira, Cleber Gouvea, N. confalloni e Gustavo Ritter. Claro, todos iluminados pelo brilho de Siron Franco.

Começou a expor em 75, lá se vão 30 anos de embate entre a arte e a vida, confundindo uma com a outra, pagando o preço que pagam os que desviam do caminho pronto e traçado. Nesse tempo, perdeu a conta de quantas exposições fez. De quanto ganhou e de quanto pagou para ser um artista. Sofreu, ao descobrir que a arte é um ente ciumento que cobra atenção e dedicação, uma amante carente que persegue os criadores em seus pensamentos mais íntimos. Sua paleta grita em tons alegres, escondendo a angustia exibida em árvores, montes, casas e família voando pelos ares, dançando ao acaso pela superfície da tela. São temas autobiográficos. Dacruz, em certo momento de sua vida viu conquistas sólidas voarem surréalisticamente de suas mãos, época em que bebeu seu próprio coração.
Artista intimista de um virtuosismo barroco mesclando a contemporaneidade dos coloristas aos sentimentos dos poetas que se encantam com o que os olhos alcançam. Retina que filtra tudo enquadrado, composto, pronto para ser pintado. Trabalhador meticuloso, lento como se movesse ao contrário do tempo. Emoção pura, não precisa ser rotulado, é pop no comportamento e um velho hippie em sonhar com a paz e com o amor.
Acreditando na arte como redenção, insistindo em ser um ser útil na lúdica opção que fez na vida, vagueia pelas ruas de Goiânia um artista que fez um pacto com o belo e que encara de frente um mundo cada vez mais amigo dos bandidos.


Gomes de Souza

Jan. de 2006