Nepotismo é parte da tradição católica. Nepos, em latim, significa neto ou descendente. Chamava-se “nepote” o sobrinho do papa. Como os papas não tinham filhos (alguns tiveram, mas é outra história), mas tinham sobrinhos, nomeavam a sobrinhada toda para cargos na burocracia da Igreja Católica. Eram bispos, cardeais, membros da Cúria Romana. E por aí vai.
As monarquias católicas praticavam o nepotismo deslavado, porque não havia uma separação nítida entre o público e o privado. O reino pertencia ao rei. E ponto final.
Napoleão Bonaparte, que se tornou imperador conquistando a coroa na ponta da espada, levou o nepotismo ao paroxismo. Entregou reinos inteiros para os irmãos e generais amigos: José foi coroado rei da Espanha; Luís, rei de Nápoles; o general Bernadotte virou rei da Suécia (a dinastia Bernadotte está no trono sueco até hoje).
Uma das críticas dos líderes protestantes à Igreja Católica era justamente a prática de os papas considerarem a Igreja “coisa sua” (ou “cosa nostra”).
Por isso, os países protestantes passaram a combater o nepotismo e a adotar regras de impessoalidade e meritocracia na administração pública.
(Nos Estados Unidos, no início da década de 60, o recém-empossado presidente John Kennedy quase sofreu um processo de impeachment aos vinte minutos do primeiro tempo, porque teve a ousadia de nomear seu irmão Robert Kennedy Attorney-general (o equivalente a ministro da Justiça). Foi um escândalo!
No Brasil, o nepotismo chegou com as caravelas de Cabral. Pero Vaz de Caminha, escrivão-mor da frota, encaminhou carta ao rei d. Manuel I, dando conta da descoberta de uma terra generosa, “onde se plantando, tudo dá”.
No final, Caminha pedia ao rei que arranjasse um emprego para um sobrinho, rapaz muito competente e cumpridor dos deveres... Pois é.
A palavra “pistolão”, tão empregada no Brasil, vem de “epístola” (carta). Daí a carta de apresentação. Tudo se originou na prática do nepotismo, registrado na carta de Caminha.
Por tudo isso, é muito bem-vinda a iniciativa do STF de disciplinar a ocupação dos cargos públicos e proibir a contratação de parentes sem concurso.
Mas vou me permitir uma dose de saudável ceticismo.
No Brasil, lei é como vacina. Tem umas que pegam, tem outras que não pegam...
Por Lucia Hippolito
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