ARTÍSTA PLÁSTICO CARLOS CÉSAR CRUZ (Dacruz) MORA EM ITAPIRAPUÃ-GO
Por Nilson Almir

D
acruz está a poucos metros das margens do Rio Itapirapuã, refúgio para o seu sossego e inspiração junto à natureza viva. É lá que, a poucas passadas, solitário, pescando com anzol ou meditando, faz o seu encontro com, talvés, Xangrilá, o paraíso dimensional Ovalistico retratado em suas obras conhecidas no mundo inteiro. Dacruz enche-se de satisfação ao falar do seu contato com a natureza dislumbrante e viva no rio Itapirapuã, conta da pescaria quando esqueceu de levar as minhocas, para mostrar seu real interesse no convívio com a natureza e todo o encanto que lá encontra.

A conversa com Dacruz é agradável, ocorre numa mistura de misticismo, lucidez e racionalidade, levando a gente a, pode-se dizer, uma proximidade real de um outro mundo, outra dimenção, pelas suas palavras, e contato com suas obras, que mesmo inacabadas, a exemplo da pintura "bailarina", em uma tela redonda, que faz na mistura da cores e desenhos, a impressão inacreditável de vida e movimento no seu colorido.
VISLUMBRANDO O XANGRILÁ - O Dom da Arte Divina
Por Carlos César Cruz (Dacruz)

Então, precisamos libertar-nos da visão atual do infinito, onde o ponto de fuga converge para o centro dele, ou seja, para o infinito do nada, e visualizar um novo infinito, o infinito do todo, onde temos o movimento cadenciado sempre para frente e em curva constante e progressiva, como é o movimento da vida no universo.
Agora vou pintar ovoides, quero assumir todos os lados do ovóide, criando um horizonte infinito, ou seja, de onde estiver verá um horizonte sem interrupções, de movimento continuado onde espero abolir o quadrado definitivamente de minha arte.
Tento buscar a perfeição absoluta, por isso preciso ser claro,
límpido e transparente onde mostrarei meu caminho pelas formas almográficas da natureza, que sempre procurou mostrar o seu movimento para o belo, para uma vida plena, radiante e feliz, fortificada no amor e na bondade. Não podemos ter influências do quadrado em nossas vidas, precisamos nos desvencilhar do desejo material, imposto na era industrial, que contribuiu definitivamente para que se fechasse o ciclo material, explorado até a exaustão, onde verificamos que o fim é a morte.
Neste milênio, o homem deve buscar o caminho de uma nova dimensão, baseado no movimento de um futuro ovalista e infinito. Para isto, devemos lançar fora tudo o que atrapalha e nos mantém prisioneiros, para adotarmos uma postura baseada no desenvolvimento sincero do dom que nos foi dado por Deus, buscando o aperfeiçoamento do nosso espírito, o amor e a bondade. Através do Xangrilá, tem-se o perfil do homem Ovalista, que deseja para todos vida eterna e plena."
CARLOS CÉSAR CRUZ (Dacruz) Autodidata.
A PINTURA DE DACRUZ:
Auto-retrato - 2002 |
Dacruz e sua pequena Sofia |
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Retrato de Dacruz 1981- Por Siron Franco |
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Retrato de Dacruz - 1998 |
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Os Amantes - 1975 Óleo sobre tela 807x956 |
O professor - 2006 Óleo sobre tela 80x100 |
Último suspiro do quadrado - 2006 Óleo sobre tela 70x85 |
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Paisagem - 2004 Óleo sobre tela 50x60 |
Agonia do quadrado - 2003 Óleo sobre tela 1,4x1,4 |
Pedra goiana |
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Último suspiro do quadrado -2005 Oleo sobre tela 80x120 |
Carlos DACRUZ é conterrâneo de importantes artistas da efervescente geração dos anos setenta e oitenta. Décadas frutiferas para as artes goianas. Dividiu criatividade com nomes como: Roos, Amaury Meneses, Gomes de Souza, Omar Souto, Iza Costa, Cléa Costa, M. Cavalcanti e tantos outros que aprendiam com os mestres: D.J. Oliveira, Cleber Gouvea, N. confalloni e Gustavo Ritter. Claro, todos iluminados pelo brilho de Siron Franco.
Começou a expor em 75, lá se vão 30 anos de embate entre a arte e a vida, confundindo uma com a outra, pagando o preço que pagam os que desviam do caminho pronto e traçado. Nesse tempo, perdeu a conta de quantas exposições fez. De quanto ganhou e de quanto pagou para ser um artista. Sofreu, ao descobrir que a arte é um ente ciumento que cobra atenção e dedicação, uma amante carente que persegue os criadores em seus pensamentos mais íntimos. Sua paleta grita em tons alegres, escondendo a angustia exibida em árvores, montes, casas e família voando pelos ares, dançando ao acaso pela superfície da tela. São temas autobiográficos. Dacruz, em certo momento de sua vida viu conquistas sólidas voarem surréalisticamente de suas mãos, época em que bebeu seu próprio coração.
Artista intimista de um virtuosismo barroco mesclando a contemporaneidade dos coloristas aos sentimentos dos poetas que se encantam com o que os olhos alcançam. Retina que filtra tudo enquadrado, composto, pronto para ser pintado. Trabalhador meticuloso, lento como se movesse ao contrário do tempo. Emoção pura, não precisa ser rotulado, é pop no comportamento e um velho hippie em sonhar com a paz e com o amor.
Acreditando na arte como redenção, insistindo em ser um ser útil na lúdica opção que fez na vida, vagueia pelas ruas de Goiânia um artista que fez um pacto com o belo e que encara de frente um mundo cada vez mais amigo dos bandidos.
Gomes de Souza
Jan. de 2006